quinta-feira, 19 de junho de 2008

Ai, quem me dera!

Terra Prometida

"Poder dormir
Poder morar
Poder sair
Poder chegar
Poder viver
Bem devagar
E depois de partir poder voltar
E dizer: este aqui é o meu lugar
E poder assistir ao entardecer
E saber que vai ver o sol raiar
E ter amor e dar amor
E receber amor até não poder mais
E sem querer nenhum poder
Poder viver feliz pra se morrer em paz"

Vinicius, o Moraes

domingo, 13 de abril de 2008

Quando fui 1ª pessoa

Acabo de ter um daqueles momentos em que, de repente, compreendo algo que sempre achei que compreendesse. Já passei por isso algumas vezes e cada uma delas foi tão intensa quanto a outra, e essa, especialmente, me deu uma sensação de liberdade que foi como se eu precisasse agarrá-la com todas as minhas forças, transformar num mantra e fixá-la na minha vida pra sempre.

Eu me dei conta de que estou pedindo permissão para viver. Sei que é um pensamento triste, porém, se analisá-lo num cenário maior, não é não! Primeiro me senti muito mal ao chegar à essa conclusão mas só quando nos damos conta do que há de bom e de ruim em nossas vidas é que podemos nos abrir verdadeiramente às possibilidades de evoluir.

Eu é 1ª pessoa. E, como se sabe, uma coisa só pode ser primeira porque existem outras após ela, se não, seria pessoa única. Acontece que eu sempre coloquei as outras pessoas antes de mim. E, como se sabe também, isso está errado. Tanto na gramática quanto na vida. Foi assim que, por uns poucos segundos, entrei em êxtase ao sentir verdadeiramente que não preciso pedir permissão para viver, para ser eu mesma e feliz à minha maneira, até porque pude provar, durante muito tempo, que não dá pra ser feliz vivendo permanentemente sob ''custódia'' dos outros. Queria preservar esse momento, assim, como ele está agora, fresco, vivo para sempre, e a melhor forma que encontrei de concretrizá-lo e de certa forma "passar adiante" foi pondo (tentando) em palavras.

Acho que durante toda a minha vida eu não vivi para mim (não que seja ruim viver para o próximo, é até muito bonito desde que você, antes de aceitar o outro, aceite a sí mesmo). Me lembro de um sem fim de dias em que eu pensei em ser diferente do dia anterior, em muitos aspectos diferente do que esperavam que eu fosse e me lembro também que no fim de cada um desses dias eu desisti por medo. "Deixei para a próxima".
Um exemplo claro disso ocorreu quando eu criei o blog: estava super animada até apertar ''Concluir", mas depois, quando percebí que estaria exposta veio o ''medo'', porque tudo que eu escrevo ou posto aqui, seja uma frase, o trecho de um livro, uma poesia ou seja o que for, diz muito sobre mim. E mesmo que eu escreva um texto sobre reprodução bacteriana, o movimento das placas tectônicas ou os aspectos geopolíticos do Marrocos, não poderei dizer: " Ah! Isso não tem nada a ver comigo!" Como não? Saiu de mim! É quase como dar à luz ou algo do tipo. E é isso o que me dá medo, o olhar julgador do próximo, o que pode ser uma espécie de projeção, porque talvez eu também julgue demais o próximo e à mim mesma.

Esse deve ser o texto mais importante que já escreví, porque me chama a realizar mudanças que partam "de eu para mim" e depois aos outros. Se eu pudesse fazer com que cada pessoa que o lesse sentisse o mesmo que eu sentí, mesmo que por alguns minutos, já seria o máximo!
Não consegui expor as idéias de maneira mais clara, vou evoluir e exercitar esse pensamento da ''não permissão'', da liberdade...daí vou fazer um óculos dele e sair andando por aí!

sábado, 15 de março de 2008

Ergue os olhos Hannah! Ergue os Olhos!

O título desse post é um trecho de um discurso feito por Charles Chaplin em O Grande Ditador. O filme se passa em meio a Segunda Grande Guerra Mundial, quando os judeus estavam sofrendo o preconceito alemão. Chaplin interpreta os dois protagonistas da história: o ditador Adenoid Hynkel (uma clara referência a Hitler) e um barbeiro Judeu. O discurso é a cena final do filme e ele faz o papel do barbeiro se passando pelo Ditador, mas você percebe que na verdade é o Chaplin mesmo. O problema é que eu sou péssima pra explicar filmes, mas olha...esse aí...é demais! Chego a ficar arrepiada só de lembrar da cena!
E a Hanna do título do post é a mulher que o barbeiro gosta e que sofreu as crueldades do nazismo.
Aqui vão alguns trechos do discurso:

"[...] O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem ... levantou no mundo as muralhas do ódio ... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, emperdenidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
[...]
Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora ... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas ... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia ... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais ... que vos desprezam ... que vos escravizam ... que arregimentam as vossas vidas ... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar ... os que não se fazem amar e os inumanos.
[...]
Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela ... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo ... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progreso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.

Hannah, está me ouvindo? Onde se encontre, levanta os olhos! Vê, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo - um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergues os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!"

Lindo, não? Sabe, quando leio isso sinto que somos 6 bilhões de Hannah's...
Ergamos os olhos!

sábado, 26 de janeiro de 2008

Rabisco do futuro

24 de Fevereiro de 2000

"Querida Danielle,

Estou respondendo a sua cartinha, obrigada pelo desenho lindo, parabéns pelo seu trabalho!
Não mandei uma resposta antes porque não foi possível. Acho lindo nós nos comunicarmos.
Como você é inteligente!
Espero que seus pais tenham todo o cuidado com a educação de vocês, e não se esqueça de que eles são seus melhores amigos e companheiros.
Não perca nunca a força de vontade para aprender coisas boas. Me sinto muito feliz por você me considerar tanto!
[...]
Muita felicidade nos seus estudos, é o que deseja a vó Geni.
Um beijo para você, Natalia, seu pai e sua mãe."

Boas lições, boas lições. Valeu, vó!
Eu tinha 10 anos e gostava de mandar cartas...fofo, vai!
Não é incrível como as pessoas da nossa família quase sempre nos julgam muito mais inteligentes do que nós pensamos ser?
É claro que é legal alguém achar que o seu desenho de rabiscos é uma preciosidade, uma obra de arte e tal...mas quando a gente cresce e a super estimação cresce junto, atrapalha...e como!

domingo, 20 de janeiro de 2008

''De que é que eu tenho sede e fome?''

Interrogação

Neste tormento inútil, neste empenho
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma da charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize para onde eu vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!

Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!

Florbela Espanca

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Me encanta (que eu gosto)

As tartarugas existem há cento e cinquenta milhões de anos!
Simpatizo com elas. Talvez sejam os olhos caídos e brilhantes, talvez seja aquele casco duro e desenhado, que dá uma impressão de blindado, impenetrável, mas que na verdade, esconde um legítimo Corpo Mole!

As tartarugas que vivem nos oceanos colocam e enterram seus ovos na areia das praias. São muitos ovos, o que não significa que o mar está lotado de tartarugas, pelo contrário: a cada mil filhotes, apenas um chega à idade adulta!

Quando um filhote rompe a casca do ovo, começa uma verdadeira corrida pela vida. A intenção é chegar sã e salvo no mar antes de ser comido por algum outro animal. Não há tempo para pensar, olhar para trás e desfrutar da paisagem, é seguir em frente o mais rápido que puder, mesmo que em passo de tartaruga...

Uma coisa interessante é que o macho nunca mais volta à terra firme, sua vida é no oceano. Já a fêmea, e isso é o que mais me encanta, quando atinge a maturidade, aos vinte anos, volta para a mesma praia onde nasceu, dessa vez para ser o agente da situação e colocar seus próprios ovos! Não é incrível?

Até hoje não se sabe como isso acontece. Como um filhote com menos de 6cm, sem se quer ter tempo de "memorizar" o lugar que um dia foi crucial para sua sobrevivência, pode voltar pra ele vinte anos depois?

Talvez seja uma espécie de caminho inevitável. Talvez todo mundo seja um pouco tartaruga.
A gente e passa a vida fugindo da morte, tentando deseperadamente ir de encontro ao mar. Passamos a vida em busca da tão mitificada "felicidade", mesmo que nem saiba direito que já a encontrou, porque felicidade não é o fim, não é uma linha de chegada, não é só mar, é mar e areia, é o caminho todo.
E as tartarugas existem há cento e cinquenta milhões de anos!

sábado, 12 de janeiro de 2008

Bloqueio

MEU PENSAMENTO NÃO QUER PENSAR
(Moska)

Meu pensamento não quer pensar
ele está com preguiça de se levantar
Depois de um sono tão profundo
é duro acordar e ver que no mundo
tudo é novidade, mas eu já conheço
Então volto a dormir que é pra ver
se me esqueço

Que meu pensamento não quer pensar
e para apreender eu vou ter que apanhar
pois só assim que o ser humano evolui
Só assim serei o que nunca fui
Tudo é tão velho e eu ainda nem nasci
O tempo nunca passou e eu nem percebi

Que o meu pensamento não vai pensar
enquanto eu não fizer seu coração vomitar
toda a consciência que não o deixa em paz
com os mesmos padrões de séculos atrás
com as mesmas paixões por coisas
absolutamente banais.