sábado, 26 de janeiro de 2008

Rabisco do futuro

24 de Fevereiro de 2000

"Querida Danielle,

Estou respondendo a sua cartinha, obrigada pelo desenho lindo, parabéns pelo seu trabalho!
Não mandei uma resposta antes porque não foi possível. Acho lindo nós nos comunicarmos.
Como você é inteligente!
Espero que seus pais tenham todo o cuidado com a educação de vocês, e não se esqueça de que eles são seus melhores amigos e companheiros.
Não perca nunca a força de vontade para aprender coisas boas. Me sinto muito feliz por você me considerar tanto!
[...]
Muita felicidade nos seus estudos, é o que deseja a vó Geni.
Um beijo para você, Natalia, seu pai e sua mãe."

Boas lições, boas lições. Valeu, vó!
Eu tinha 10 anos e gostava de mandar cartas...fofo, vai!
Não é incrível como as pessoas da nossa família quase sempre nos julgam muito mais inteligentes do que nós pensamos ser?
É claro que é legal alguém achar que o seu desenho de rabiscos é uma preciosidade, uma obra de arte e tal...mas quando a gente cresce e a super estimação cresce junto, atrapalha...e como!

domingo, 20 de janeiro de 2008

''De que é que eu tenho sede e fome?''

Interrogação

Neste tormento inútil, neste empenho
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma da charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize para onde eu vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!

Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que é que eu tenho sede e fome?!

Florbela Espanca

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Me encanta (que eu gosto)

As tartarugas existem há cento e cinquenta milhões de anos!
Simpatizo com elas. Talvez sejam os olhos caídos e brilhantes, talvez seja aquele casco duro e desenhado, que dá uma impressão de blindado, impenetrável, mas que na verdade, esconde um legítimo Corpo Mole!

As tartarugas que vivem nos oceanos colocam e enterram seus ovos na areia das praias. São muitos ovos, o que não significa que o mar está lotado de tartarugas, pelo contrário: a cada mil filhotes, apenas um chega à idade adulta!

Quando um filhote rompe a casca do ovo, começa uma verdadeira corrida pela vida. A intenção é chegar sã e salvo no mar antes de ser comido por algum outro animal. Não há tempo para pensar, olhar para trás e desfrutar da paisagem, é seguir em frente o mais rápido que puder, mesmo que em passo de tartaruga...

Uma coisa interessante é que o macho nunca mais volta à terra firme, sua vida é no oceano. Já a fêmea, e isso é o que mais me encanta, quando atinge a maturidade, aos vinte anos, volta para a mesma praia onde nasceu, dessa vez para ser o agente da situação e colocar seus próprios ovos! Não é incrível?

Até hoje não se sabe como isso acontece. Como um filhote com menos de 6cm, sem se quer ter tempo de "memorizar" o lugar que um dia foi crucial para sua sobrevivência, pode voltar pra ele vinte anos depois?

Talvez seja uma espécie de caminho inevitável. Talvez todo mundo seja um pouco tartaruga.
A gente e passa a vida fugindo da morte, tentando deseperadamente ir de encontro ao mar. Passamos a vida em busca da tão mitificada "felicidade", mesmo que nem saiba direito que já a encontrou, porque felicidade não é o fim, não é uma linha de chegada, não é só mar, é mar e areia, é o caminho todo.
E as tartarugas existem há cento e cinquenta milhões de anos!

sábado, 12 de janeiro de 2008

Bloqueio

MEU PENSAMENTO NÃO QUER PENSAR
(Moska)

Meu pensamento não quer pensar
ele está com preguiça de se levantar
Depois de um sono tão profundo
é duro acordar e ver que no mundo
tudo é novidade, mas eu já conheço
Então volto a dormir que é pra ver
se me esqueço

Que meu pensamento não quer pensar
e para apreender eu vou ter que apanhar
pois só assim que o ser humano evolui
Só assim serei o que nunca fui
Tudo é tão velho e eu ainda nem nasci
O tempo nunca passou e eu nem percebi

Que o meu pensamento não vai pensar
enquanto eu não fizer seu coração vomitar
toda a consciência que não o deixa em paz
com os mesmos padrões de séculos atrás
com as mesmas paixões por coisas
absolutamente banais.